Um tema interessantíssimo...
Remete-nos para os primórdios da humanidade e do
pensamento.
Desde o quadrúpede que se desenvolveu a bípede, tudo fez parte
da aprendizagem a uma escala planetária.
Eu teria sido o primeiro a erguer-me, considerando a minha
destreza física... exemplificando depois aos meus súbditos e escravos
disformes, as regalias de uma mente sã em corpo são.
Expunha agora o meu entroncado torso às fêmeas residentes,
principalmente as dos outros.
Grunhiria para elas, eriçando o camuflado envolvente da época
com um olhar matador, exigindo submissão.
Dominaria o clãn…
Exigiria estonteantes e bombásticas admoestações
sexotranslucidas, várias vezes ao dia.
Rejeitaria qualquer suco vitamínico, tal não seria a minha
pujança.
Seria imortal, premiando os demais a uma perpétua
aprendizagem e elevação de valores.
Ensinaria o meu povo a ler, a escrever e principalmente a
tabuada. Montaria um púlpito para os incentivar a discursar...
Ensinaria as novas gerações a respeitar os mais velhos...
Que se os insultassem ou faltassem ao respeito, seriam
amaldiçoados. Evitaria entrar em pormenores para não os confundir.
Imitaria os grandes andantes actuais das passereles, para
exemplificar aos pupilos como andaria um jaguar sedutor,
incentivando-os.
A invenção das primeiras ferramentas, estariam a meu cargo
depois de me ter fartado dos ossos.
Interrogar-me-ia... como deslocar pedregulhos de um lado
para o outro,
sem danificar a minha deslumbrante epiderme.
O que não seria inventado por mim, havendo outro
deslumbrante ser para lá do arco-íris que inventou primeiro a roda
tendo eu desenvolvido depois, primeiro a carroça e muito mais tarde,
depois de exaustivos estudos, o carro.
Fácil não é... depois de inventado!!!
Coordenaria estes projectos todos mesmo à distância.
Primeiro por sinais de fumo amarelado em formato do algodão
doce, depois reflectiria o sol em conchas gigantes iluminando o
longínquo, até que para maiores distâncias,
destacaria corredores de fundo.
Até chegarmos ao fio de cobre, que liga dissimuladamente,
-sem que ninguém reconheça o real valor deste item-, todo o
mundo e humanos uns aos outros.
Já me dava ao luxo de namorar com femeeiros de outras
tribos longínquas, noutras ilhas,
depois de ter estudado a questão arduamente,
inventando a canoa para chegar lá, para um contacto mais carnal.
Ou simplesmente carnal... porque não há meio termo. Estaria
presente entre a folhagem no dia do nascimento de Jesus.
Reescreveria toda a história, propagando a fé e os
ensinamentos cristãos, já noutras vestes.
Teria um regimento de mulheres saudáveis, a quem ensinaria
detalhadamente a estonteante e sôfrega, -como também redutora do
folgo- arte do kamassutra, préviamente escrito por mim.
Seria comedido por atravessarmos uma época espiritual.
Retomaria depois a emulsão afrodiziaca muito mais tarde,
noutros tempos, outras vontades, outros saberes, conversões,
mercados, dinâmica, conceitos, transgénicos e a nociva coca-cola.
Teria desfraldadas e ao léu numa ilhota, a quantidade
equivalente às concorrentes da miss universo,
todas loirinhas polpudas e suculentas.
Inventaria mais acrobáticas e estonteantes subtilezas na arte do
pikolin, que tanto me caracterizava.
Seria imparável...
Passaria todos os ensinamentos à minha prol.
Assistiria à evolução dos tempos e como tudo tinha
mudado, desde o tempo em que dormia nas cavernas,
rodeado de pequenos roedores, artrópedes, invertebrados e a não
menos nociva, doninha encavalitante.
Veria o grand Canyon secar, sendo a prova viva do
acontecimento sem que ninguém desconfiasse, até ao meu prematuro
fim, nunca chegando a revelar o sucedido, devido às malditas ostras
enlatadas.
Nem as aspirinas empacotadas me salvaram. Tinha a última
edição da playboy nas mãos, quando dei o ultimo suspiro.
Na capa estava a Suri, filha do Tom Cruise e da Katie Holmes.
Já teremos chegado a Marte.
As minhas ninfetas molhavam-me a testa e acariciavam-me o
baluarte dos sentidos que tanta falta lhes iria fazer.
Beijavam-me todo, amaldiçoando as malditas ostras com cominhos,
às quais eu era alérgico.
Já o mundo tinha evoluído em todos os quadrantes, com
novas aprendizagens, já desfragmentadas dos meus ensinamentos,
evoluindo umas e regredindo outras.
Mas por bem ou por mal, tudo seria feito a favor da
globalização.
A universalidade imponente, coesa e transmissível da nova
ordem.
O novo poderio do ser supremo, imposto pela magna carta de
uma nova ditadura universal.
Só assim o mundo terá salvação. Os ensinamentos serão
feitos a uma só voz, pela mesma cartilha.
O discordar despoletará o pânico e a respectiva punição do
meliante. Todos os objectos contentar-ma-ão na sua finitude.
A produtividade integral, ressuscitará em uníssono. Já terá
sido, sem me aparecerem num fundo de infinito.
Terei no finito, como contentamento, a minha sensibilidade...
Embora ela não constitua uma universalidade paralela e
abrangente, não me penitenciarei por isso.
Só os eleitos são beatificados pela plenitude altruísta. A
elevação do ser, eu, sem rival.
Mas o mundo dito sensível, não tem como função constituir
uma representação de predicados, inalcansáveis pela maioria, mas
constitui o próprio contentamento da existência humana,
por muito torpe e inexistente que ele seja.
Delegarei por escrito na talha lapidar, a irracionalidade...
Porque a sua insuficiência racional,
nem sequer ressalta na fruição
conjuntural que ele me proporciona.
Fim…
Outrora em 2011 "boa casta"